24/03/08

O Estado Passepartout


O Estado português é como as mães passepartout.

A mãe é o primeiro centro de serviços à disposição dos filhos. O cordão umbilical cortado durante o parto, vai dando lugar a outras formas de ligação relacional, absolutamente vital, para o bom desempenho dos intervenientes : lavandaria, hotelaria , engomadoria e aquele que ela sempre desempenhou na maior das perfeições, o serviço de portaria nocturna .

Quando os filhos chegam à idade casadoira, tornam-se ambivalentes porém,
as alternativas são poucas e portanto, acabam por assumir essa nova etapa do desenvolvimento, que preparam meticulosamente, e apelidam como "o dia mais belo" . Atinge o pico da profundidade filosófica quando na Igreja, por entre lágrimas singelas, deixa escapar baixinho para todos ouvirem: " A minha missão de mãe está cumprida"

Evidentemente que tal momento é preparado com todo o rigor, dispensando o simplex, a empresa na hora, e não olhando a meios para atingir os seus fins. O casamento é também uma forma de mostrar o poder económico da família.
São gastos em fatos de chiffon, antracite, pochettes e saltos altos; párocos e igrejas engalanadas; meninos e meninas portadores de alianças hiperagitados ; damas Leonores, e até a Avé-Maria de Gounoud cantada por escuteiros de calções e chapéu a condizer.
Obviamente, é inconcebível não eternizar os diferentes momentos que constituem esse memorável dia, pelo que contratam o profissionalismo romântico de um qualquer fotógrafo, que sabe bem a importância que constitui as 5 678 fotografias e o vídeo de hora e meia, para a família.
O repasto, vulgo menu da boda (sim porque casar dá muita fome, excepto para os nubentes) tal como na cozinha materna, deve ser concebido com a arte de empanturrar e regar em bar aberto os convivas, espalhados em mesas redondas, com arranjos florais feitos com paus de canela, bagas de azevinho e laços de ráfia.
Lá para o final da noite, quando os vapores de Baco avançam, perde-se a compostura mas, será sempre recordado como um casamento de arromba .
Evidentemente que os progenitores pagam tudo aos nubentes de modo a que eles possam dar uma entradita para um andar de três assoalhadas, um enxovalho a condizer pago pelos convidados em listas de casamento concebidas consoante as necessidades, e uma lua de mel, a consumação do acto carnal, em destino adequado.

É bom de ver que a DGCI (mais conhecido por "Fisco"- o casamento é um acto solene e portanto, deve-se vestir a rigor a instituição), não poderia perder semelhante oportunidade.
Conecedores profundos dos costumes lusos, concebe um um questionário, à boa moda pidesca, em que solicita a informação relacionada com o evento dos próprios, da sala de repasto ao lado, ou outros, para ser respondido no prazo de 15 dias. Caso não o façam, pois são ameaçados com a instauração de um processo de contra-ordenação fiscal punível com uma coima que varia entre os 100 e os 2500 euros.

É o Estado passepartout. Em todos os momentos da vida do cidadão as obrigações fiscais devem estar em primeiro lugar.

Os nubentes não podem ter um período de nojo, para se preparam para darem inicio à carreira brilhante de futuros pais passepartout. Não .

O Estado sócretino acha que, depois da oficialização da consumação carnal, devidamente certificada e de papel passado, deve-se preencher o subsequente relatório para o fisco.

Eu dou aqui uma ideia à DGCI : PF passem a enviar também inquéritos para Baptizados, Primeira- Comunhão, Comunhão Solene, Crisma, Festas de aniversário e Funerais . Aconselho também a guardarem uma salita na Torre do Tombo, ao lado daqueles ficheiros que nós todos sabemos quais são, para depósito futuro .

6 comentários:

Isabel Magalhães disse...

E os que optam por uma união de facto e mesmo assim decidem fazer uma festa de arromba, com roupinha de pompa e circunstância, limusina, fotógrafo do 'jet 6 1/2', convidados aos montes num cenário de muitas estrelas, - assim como fizeram a Bárbara Guimarães e o Manuel Maria Carrilho?
Como é que o fisco lhes faz as perguntinhas? eheheheh!

Menina Idalina disse...

"Tasse" mesmo a ver . Os do PS não apanham com o inquérito do fisco porque são ateus e como tal os banhos não são publicados, donde não podem ser notificados. Como ateus , não vivenciam o pecado da " Fuga ao Fisco" e o correspondente sentimento de culpa não os atormenta . Logo. " Tasse bem" Fixe !
Vende-se a reportagem para o Expresso e sempre podem comprar um serviço " Cozinha Velha " para comerem o Coelho .

Anónimo disse...

Formiguinha diz:
A menina Idalina informa que para que conste , que Tasse é o presente do indicativo do verbo Tar.
É só para dar trabalho ao revisor de texto ;)))

Isabel Magalhães disse...

Voltei, não podia deixar de referir o casamento do século, o da foto! eheheheh Grande escolha! :)

Anónimo disse...

Eu acho que estão a promover o amancebamento pelo que deveria ser proíbido juntar os trapinhos.

PDuarte disse...

Excelente como sempre. Um abraço menina.