13/04/10

Sua Putidade o Crimertídaco


Esse filho de quem nem pode chamar-se bem uma puta,
persegue-me, arranha-me, arrepela-me, cospe
sempre ao meu lado, e nos lugares onde
julga que passei. Filho como é,
do que nem pode chamar-se bem
uma puta, vive de cuspir, de arrepelar
de arranhar , de perseguir as sombras
que ele julga ser as de quem não passa

nos becos onde a mãe o deu à luz,
depois de untada a vida com lubrificante
que lhe ficou, brilhantina, agarrada ao cabelo,
e a mãe, logo que o viu, lhe calçou
meias verdes e lhe comeu o imbigo.
Filho do que, de puta, nem por prenha basta
para gerar um esterco assim tão penteado,
tão crítico, tão de meias verdes,
tão arrotantemente porco nas regueifas que
do cachaço ascendem ao tutano encefálico,
julga suinamente que não há lugares

nem seres humanos livres da presença
de Sua Putidade. Há.
Exactamente as pessoas e os lugares onde
ser filha da puta é ser filha da puta,
com ou sem regueifas nas ideias
ou verdura nas meias,
ou brilhantina uterina
de quem lambido foi em sua mãe
antes de nascer para cri-mer-tí-da-co


Jorge de Sena- " Dedicácias" - 3 de Agosto de 1962

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