15/08/09

Manuela


A Manuela desceu as escadas altiva e aproximou-se do microfone.

Percorreu a distância incaracteristica com o ar de quem estava a fazer um grandessíssimo frete para matar o tempo até assumir o lugar para que estava talhada desde sempre .

A certa altura, quando explicava que nas suas listas tinha excluído alguns e incluídos outros, ouviu um burburinho de quem se debatia estupefacto.


Exprimiu com o olhar um sombrio ódio aos que a desafiavam assim, mesmo sabendo que esses prevaricadores da autoridade, a tivessem outrora ajudado a ganhar a vida e muito bem.


Manuela resolveu ignorar e introduzir um ponto de vista bastante diferente na disputa .


Estava habituada a haver sempre alguns que costumavam fornecer abundantes advertências quanto à indesejabilidade de se meter a defender "arguidos aflitos". Desta vez poria em prática a doutrina da não ingerência nas questões judiciais. É certo que um dos seus mais eloquentes amigos, acossado e furioso, estava arguido e não havia braço engessado que o salvasse mas, esta era a época em que muitos dos seus velhos companheiros, se viam a braços com a justiça.


Num esgar incomodativo pensou que só mesmo a cunha do Pedro a estava a incomodar porém, mas contra tudo e contra todos tinha resolvido inclui-la a Lena nas listas de modo num acto de condescendência contra a ala das "santanetes e menezettes".


Convicta aceitava estes dois com filosófica indiferença. Trataria deles mais tarde .


Mas, Manuela caiu do seu pedestal de pessoa imperfeitamente insegura de si, magnificiente e autocráticas a quem é difícil fazer sériamente frente, quando lhe disseram ao ouvido : Aquele do Pontal, o da alopecia devidamente salvaguardada por uma peruca desalinhada, discursou ontem à noite, e afirmou que" não gosta de levar duas tampas seguidas da mesma rapariga no mesmo baile " .


Manuela engoliu em seco e resmungou: "Estes funcionários partidários são uma dor de cabeça".


Nesse instante percebeu que o melhor seria pôr aquele sorriso arrepanhado, sabendo que dentro de pouco tempo viriam todos os funcionários reivindicar lugares, e que ela sairia do episódio não como a "Deusa da Verdade" mas como um simples furão castanho dentro de uma gaiola.


Abalada pela aflição de uma futura derrota, começou a pensar como iniciar conversações diplomáticas com o Sr. Sousa.

Sorriu pensando que o olhar terno e doce do Aníbal a protegeria.

2 comentários:

Anónimo disse...

Mas aí , Menina Idalina , finda a conversa, a Manuela abalou dando um valente peido !
Com os meus cumprimentos.
LJRamos

Menina Idalina disse...

LJRamos : A Manuela não tem flatulência ;)